Hale’akala

por: Lucia Malla Havaí, Havaí, Maui, Viagens

Para mim, um dos grandes momentos randômicos de plenitude da vida acontece quando presencio o nascer do sol – o que é raro, já que não sou muito fã de acordar de madrugada. Alguns amanheceres são especialmente maravilhosos, e deles guardo recordações de momentos etéreos, que parecem infinitos na minha memória. Como o nascer do sol dentro da cratera do Hale’akala, vulcão dormente da ilha de Maui, onde estive em 2003. Você sai no escuro de casa, pega uma estrada sinuosa loooooonga até o cume do Hale’akala a cerca de 3,000m e se posiciona na borda da cratera vendo o mar ao fundo. A surpresa ao chegar lá em cima, fica por conta da multidão de turistas madrugadeiros – parece inclusive que está chegando num número limite. Mas nem os turistas atrapalham a maravilha que é o visual lá de cima. O topo do Hale’akala é considerado um dos melhores lugares do mundo para se ver estrelas, planetas e diferentes luas, devido ao horizonte visível (e a limpeza do ar), que chega a 115 milhas de oceano. Simplesmente inacreditável.

Silversword do Haleakala

Uma silversword florida – a flor é todo esse “talo” enorme que sai do arbustinho prateado. O que a gente vê no resto do ano é só o arbustinho.

Nessa cratera, existe também uma espécie de planta “super-endêmica” (que só cresce lá): a silversword (Argyroxiphium sandwicense macrocephalum). Ameaçada de extinção por sua especialização exacerbada – não cresce em nenhum outro lugar do planeta, nem em cativeiro, nem mesmo em outras áreas da mesma ilha de Maui! – a silversword floresce uma vez na vida, entre junho e setembro. Após florescer, morre. Sua flor é muito maior comparada ao tamanho da planta, e seu nome vem da aparência prateada de suas folhas pontiagudas.

Estive esses dias relembrando o Hale’akala, com muita saudade. As cores que vi naquela cratera foram únicas, e o brilho do sol ao atingir os barrancos torna a paisagem vermelha intensa, quase lunar, espacial. Sabemos que vivemos na Terra, um planetinha tão frágil; mas com versatilidade suficiente para todos os dias pela manhã se revelar em fantasia de lua num endereço específico: cratera do Hale’akala, ilha de Maui, Havaí.

Um pedaço da paisagem quase-lunar de dentro da cratera do Hale’akala durante o dia.

Onde a vida é rara em tons de prata.

Onde o sol nasce numa lua.

Onde as estrelas são mais visíveis e claras.

Onde a mente da gente… flutua.

Tudo de bom sempre.

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*Meu poeminha bobinho e infantil ao fim é uma tentativa de homenagem ao lúdico das palavras Mário Quintana pelo centenário de seu nascimento.



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