Parques nacionais americanos: Yosemite

por: Lucia Malla EUA, Parques Nacionais, Viagens

Todos a quem eu perguntava sobre o parque de Yosemite, me diziam a mesma coisa: “é lindíssimo, vale a pena visitar, é enorme”, etc. Mas… ninguém me dizia exatamente o que eu veria lá, e por mais que eu perguntasse, as respostas eram vagas, do tipo: “um visual lindo”. Essa amplitude de definição me incomodava um pouco. Ficava na minha cabeça a incógnita, apesar da certeza de que seria belo, visto que 100% das pessoas que visitam parecem adorá-lo. Toda unanimidade é burra, já dizia Nelson Rodrigues. Mas resolvi arriscar: ver a suposta beleza para crer. Ou talvez ser uma nêmesis.

Saímos de um hotel de beira de estrada em Oakhurst praticamente de madrugada, para chegarmos cedo ao parque e aproveitarmos ao máximo o dia por lá. Um sol lindíssimo amanhecia à medida que dirigíamos. Logo na entrada, a descoberta: muitas das atrações do parque estariam fechadas; era inverno, e certas estradas estavam inacessíveis por causa da neve. Ao receber o mapa do parque, também percebemos que ele era imenso. Se quiséssemos rodar por tudo, teríamos que planejar direitinho o trajeto.

Começamos passando pelo Badger Pass, uma área de esqui muito linda. A neve branca e o céu super-azul realmente compunham um cenário alpino, embora estivéssemos na Califórnia. Muitas pessoas, a maioria com cara de profissionais do esqui, aproveitavam as ramponas do local. Não nos arriscamos a alugar um equipamento para umas descidas, embora a neve estivesse convidativa – jamais imaginei que escreveria essa frase na vida, já que eu não gosto de frio.

A área de esqui do Badger Pass, com uma brancura de doer os olhos. Abaixo, a primeira visão mágica do vale do Yosemite. Ao fundo, o Half Dome, montanha em formato de concha, com neve.

Yosemite

De lá continuamos na estrada pelo parque. Subíamos sempre, até que em dado momento, chegamos a um ponto de observação alto com uma vista impressionante. Acho que ali começava a verdadeira faceta “maravilha da natureza” de Yosemite. A paisagem era composta de gigantescos rochedos de granito cobertos por neve do inverno e um vale no meio onde uma floresta de coníferas predominava, com um riozinho claríssimo láááá no fundo. Uma daquelas paisagens típica de zona temperada que todos vêem frequentemente em calendários – levante o dedo quem já viu.

O fotógrafo que iniciou boa parte dessa invasão de paisagem de coníferas americanas pelos calendários mundo a fora foi Ansel Adams, que durante as décadas de 30 e 40 se dedicou a fotografar em preto-e-branco o Yosemite – a maioria dos fotógrafos que vieram depois se inspiraram em ângulos desbravados primeiro pelas lentes de Adams. Suas fotos se tornaram tão famosas, e ele ficou tão reconhecido por divulgar a paisagem da Sierra Nevada, que hoje uma das reservas que fazem divisa com Yosemite chama-se Ansel Adams Wilderness, uma forma de homenageá-lo após sua morte em 1984. Não é um barato que um fotógrafo tenha virado nome de parque?

Paisagens de calendário, nem por isso menos belas ao vivo e a cores. A inspiração ao redor e dos primeiros cliques de Ansel Adams é evidente por todos os lados.

E faz sentido. Yosemite é realmente fotogênico. Com toda aquela paisagem bucólica tão batida, o granito Half Dome enorme formando uma espécie de catedral natural, o ambiente pede por contemplação, em toda sua majestade. A sensação mais forte em Yosemite é: somos um nada perante a grandeza daquele ambiente natural.

Depois de rodear por todo o vale principal lá do alto – e perceber que há vários hotéis e cabanas para aluguel dentro do parque -, foi hora de descer e ver de perto o riozinho. Água cristalina, refletindo todo o colorido ao redor. Uma das cachoeiras do parque caía em cima de um monte de neve, numa dessas descobertas surpresas que um trajeto pode oferecer. Fizemos algumas pequenas caminhadas, aproveitando o frescor do dia, que passara tão rápido no meio de toda aquela vegetação bela. Já era de tardinha quando dei tchau a Yosemite. O que ficou da visita para mim? Uma “paisagem lindíssima, que vale a pena visitar, enorme”. Não à toa nomeado Patrimônio Natural da Humanidade. Mas de difícil definição – tem que realmente ver pra crer.

Mais Yosemite: cachoeira caindo sobre a neve e o rio de águas super-claras, com fundo rochoso e pinheiros na margem. Paisagem mais temperada, impossível.

E não adianta tentar ser nêmesis e parafrasear Nelson Rodrigues de que toda unanimidade é burra, porque simplesmente não cabe para lá. A unanimidade nesse caso é deveras inteligente, ao deixar apenas vagamente revelar a beleza em comentários a terceiros. Veja por si mesmo.

Tudo de bom sempre.

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– Pergunta malla: Por que toda cachoeira grande que se preze chama-se “Véu da Noiva”? Será que a criatividade humana de nomeação se dissipa junto com as águas que caem da cachoeira?

– Infelizmente, não vimos nenhum urso por lá… embora eles existam aos montes na região! 🙁



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