Por um cartão postal mais limpo

Já há uns cinco anos que comecei a prestar atenção num fenômeno que aparecia cada vez com maior frequência nas minhas fotos de viagem – e nas dos amigos também. Um cenário que aos poucos foi me incomodando mais e mais. Era uma camada extra nas fotos de cidades, que não correspondia a um filtro novo do instagram. Embora parecesse, e às vezes colaborando até um pouco pro blur e pra falta de contraste da foto. Uma foto de cartão postal limpo era cada vez mais difícil de se obter.

Por um cartão postal limpo - Hong KongHoje, posso dizer que esta camada já virou rotina nas imagens não-photoshopadas de muitas metrópoles pelo mundo. Desaparece um pouquinho depois da chuva ou dependendo dos ventos. Mas logo reaparece, firme, forte e consistente.

Cartão postal limpo? Só sem poluição atmosférica

Falo da famigerada camada de poluição atmosférica, que contamina e acinzenta os destinos por onde passamos, que nos abraça sem questionar fronteira. O ar, esta combinação gasosa que mantém a nossa vida, já não é o essencial invisível aos olhos da época de Saint-Éxupery; hoje o vemos em 50 ou mais tons de cinza, pelas esquinas e planícies do mundo.

(O Photoshop pode até tirar essa camada poluidora da sua foto de viagem querida e estimada. Mas um plano de uso de energia e recursos mais ambientalmente limpo, aliado a mudanças de alguns de nossos hábitos, talvez tirassem pra sempre. Tenho certeza que seu pulmão agradeceria. E o pulmão de seus filhos, netos e bisnetos.)

Mapa da NASA - poluição atmosférica

(Mapa da NASA tirado daqui.)

Por que o ar do mundo está tão poluído?

Do Rio de Janeiro a Paris (e com uma parada especial na Ásia, claro), cada vez mais a poluição atmosférica predomina a foto que seria de cartão postal – e já é visível até do espaço. Ela é fruto principalmente de uma fonte energética nada limpa e do número recorde de veículos nas ruas nas grandes cidades, onde a concentração de concreto complica ainda mais a dispersão.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), já são 1.3 milhão de pessoas por ano que morrem de doenças respiratórias em decorrência da poluição atmosférica urbana. Já é uma das grandes problemas de saúde da humanidade. Para muitos governos, a poluição atmosférica é “o preço do progresso”, preço este que também inclui, lembremos, o gasto com hospitais e afins para tratar a população literalmente sufocada.

Uma reflexão

Hoje, 05 de junho, é o Dia Mundial do Meio Ambiente. Data famosa, lembrada e celebrada, cheia de discussões pertinentes e importantes para a saúde do ambiente do nosso planeta. E eu queria deixar aqui então minha reflexão pessoal de que a saúde do planeta interfere diretamente na nossa própria saúde.

Todos nós, viajantes deste planetinha azul, deveríamos refletir em como podemos nos esforçar um pouco mais para pressionarmos nossos governantes a tomarem medidas que auxiliem na diminuição do problema (dado que uma melhoria para esse problema vai muito além do esforço individual, como bem coloca a OMS). Assim, poderemos deixar um cartão postal limpo e mais lindo das nossas cidades pras futuras gerações que vêm aí: cidades com um ar mais limpo, respirável, livre de tantas nojeiras causadoras de doenças de pulmão. Acima de tudo, cidades mais agradáveis para as vivências e desavenças do dia-a-dia. O efeito colateral disso?

Cidades mais bonitas ainda nas fotos dos cartões postais. 🙂

Tudo de ambiente por inteiro e limpo sempre.

P.S.

  • Esse slider de Beijing é simplesmente assustador. É impressionante.
  • Vale sempre lembrar que não são só os humanos que sofrem com a poluição atmosférica. #antropocentrismoFAIL
  • Quer saber a quantas andas o ar que você respira na sua cidade? Ou quer saber se aquele destino de viagem vai ou não te dar uma crise de asma? Claro, there’s an app for that. Não um, aliás, mas vários.
  • Aos viajantes de plantão: navios de cargo e cruzeiros emitem quantidades astronômicas de poluentes no ar. Aviões também. Que tal equacionar isso na hora de escolher o próximo destino de férias? Eu sei, não é fácil. Mas quem disse que mudar nossos hábitos é tarefa descomplicada? (E não, plantar uma única árvore só é suficiente para apaziguar a sua mente; pense em pelo menos uma centena para começarmos a conversar sobre diminuição do impacto…)
  • Só pra ilustrar: no dia em que por algum fenômeno meteorológico, São Paulo amanheceu com ar limpo, fomos imediatamente fotografar o momento único. As imagens desse evento raro estão neste post
  • Um historieta: uma das minhas colegas de trabalho é chinesa, e trouxe a filha de três anos para o Havaí quando se mudou. A menina nunca tinha saído de Beijing. Ela disse que a primeira coisa que a filha disse ao chegar em Honolulu foi: “Mamãe, o céu é azul!”. Quase chorei quando ouvi essa história.


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