por:
Lucia Malla
Ecologia & meio ambiente, Faça a sua parte, Mudanças climáticas, Viagens
Publicado
27/01/2007
Como é ser viajante em tempos de aquecimento global?

Sabemos que aviões consomem uma quantidade fenomenal de combustível, necessárias para manter toneladas de metal no ar. Esse combustível todo, é claro, termina na atmosfera sob a forma de CO2, colaborando para a ciranda de problemas climáticos que vemos na atualidade. Principalmente aquecimento global.
Uma medição da temperatura atmosférica nos 3 dias consecutivos ao 11 de setembro de 2001 quando todas as aeronaves nos EUA estavam obrigatoriamente em solo, mostrou que a variação térmica diária era muito maior, ou seja, mais temperaturas baixas apareciam na escala do que a situação que vivemos diariamente, com os aviões cruzando os céus.
Alternativas à aviação
Felizmente, já existem pessoas e empresas procurando alternativas a esse problema, tentando construir um avião ecologicamente correto. Entretanto, a maior parte dessas alternativas ainda são idéias pro futuro, não imediatas. Na prática, o que podemos fazer hoje é sermos bons consumidores e tomar medidas para diminuir as emissões de CO2 relacionadas a viagens.
A mais drástica delas para um viajante apaixonado é deixar de viajar de avião. Ou tentar viajar apenas quando estritamente necessário. Nesse caso, procurar empresas com melhores ofertas (onde os vôos provavelmente estarão mais cheios e a eficiência de transporte é maior) ou que sejam mais “ecologicamente corretas” – embora o avião em si não o seja, a empresa responsável por ele pode ter planos de diminuição de CO2 em ação, incentivar projetos ambientais, etc. Afinal, o avião ser um agente poluidor ainda é reflexo de um problema tecnológico de modelo – a “eterna” e errônea dependência do petróleo.
Parênteses
Um amigo meu inglês está nesse momento viajando da Inglaterra ao Tibet de trem, para evitar exatamente o uso de avião. Vários dias na estrada. Esse é talvez o maior exemplo de pessoa preocupada com o ambiente com que já me deparei. Fim do parênteses.
O valor das viagens
A questão, entretanto, que martela em minha cabeça é outra. Não viajar, ao mesmo tempo que beneficia o ambiente, é um problema para a melhoria da sociedade como um todo, porque no extremo do raciocínio, estaríamos fadados a conhecer apenas nossos arredores, e não o mundo – experiência que eu garanto, é impagável na formação de uma mentalidade global.
Não há internet nem fotos possíveis que tragam o barulho das mobiletes nas ruas de Taipei, os miados dos zilhões de gatos que andam à deriva em Honolulu, ou o cheiro (deliciosamente desagradável, por sinal) das bolhas de sulfa nas crateras de Rotorua, na Nova Zelândia. Essas experiências sensoriais fazem parte do “estar em um local” e elas enriquecem a visão de mundo, nos tornam de certa forma pessoas mais flexíveis, adaptáveis. Elas colaboram para sua visão aberta de horizonte, e te mostram o quanto a diversidade étnica, de idéias e de ecossistemas é um bem de valor inestimável. E isso no final colabora para a existência de cidadãos mais preocupados com questões globais. Uma roda-viva.
Viajar em tempos de aquecimento global
Penso muito nessa contradição, e me dói. Afinal, sou viajante inata, amo viajar. Pelos meus últimos cálculos, precisaria plantar 111 árvores para compensar as 16.7 toneladas de CO2 que ajudei a deixar na atmosfera apenas em 2006, resultados de tantas viagens de longa distância – só as viagens transpacíficas já estourariam qualquer limite aceitável. Preciso começar a fazer como Dave Matthews e Al Gore, que “compram” árvores antes de viajar na tentativa de (tentar) neutralizar a emissão própria. Ou, pelo menos, amenizar. Sugestões mais eficientes para este problema são bem-vindas.
Tudo de bom sempre.
P.S.
- Postado também no “Faça a sua parte”.