Tubarões protegidos na região Micronésia

Só uma excelente notícia dessas mesmo para me tirar do silêncio online: representantes dos governos de 5 países da região Micronésia (Palau, Guam, Ilhas Marianas, Ilhas Marshall e Estados Federados da Micronésia – EFM) se reuniram semana passada em Palikir, capital da EFM, para passarem uma resolução [link em PDF] que inicia o processo de transformação de TODA a região micronésia em um santuário de tubarões. Teremos tubarões protegidos por um pedação do oceano Pacífico.

Tubarões protegidos na Micronésia
Tubarão vai nadar mais tranquilo nas Ilhas Marshall...

Não é pouco, pessoal. Apesar da região micronésia ter pouquíssima terra, ela tem muito mar. Mais exatamente, cerca de 2 milhões de milhas quadradas – o  equivalente a uma Europa e meia (sem a Rússia) só de mar, muito mar.

Mapa do santuário dos tubarões protegidos da Micronésia
A área circulada do mapa mostra onde será o maior santuário de tubarões do planeta.  (Mapa tirado daqui, modificado por mim.)

E é no mar que o tubarão vive. Portanto, guardar aquelas águas é ação-chave para uma proteção mais eficaz do grupo por todo o Pacífico, quiçá para o mundo todo, dada a natureza altamente migratória de boa parte das espécies de tubarão.

O processo legal para tornar tubarões protegidos na Micronésia

O processo de criação do santuário de tubarões pretende ser finalizado até dezembro de 2012 (daqui a pouco!), e proibirá a pesca e o finning de tubarões na região. Espera-se que tal processo legislativo se expanda e, aos moldes da lei que já vigora aqui no Havaí, incluirá a proibição do comércio, consumo e posse de barbatanas de tubarão – e se a lei for aprovada nesse nível de requinte, será a cereja do bolo da conservação dos tubarões da década.

Entretanto, sabendo-se que a região micronésia não está distante da China, Taiwan e Japão, maiores pescadores e consumidores de tubarão do planeta – e sabendo que a presença de frota pesqueira dos 3 países na região é intensa, e ainda mais, sabendo-se que a força econômica destes 3 sobre os habitantes da região é muito poderosa – , será extremamente interessante ver como a fiscalização de tal legislação ocorrerá. Eu torço muito para que seja efetiva, mas sei que não será tarefa simples.

Bandeira dos Estados Federados da Micronésia em Palikir
Bandeira da Micronésia no complexo federal de Palikir, capital dos EFM (é a Brasília deles, onde os prédios do governo se concentram). Neste local foi assinado a resolução que se compromete a criar a maior área de proteção de tubarões do planeta. Histórico – pros tubarões, pelo menos. 🙂

Unidos na proteção aos tubarões

Mas há um outro adendo bacana a esta iniciativa já tão animadora. Porque esta é a 1a vez que diversos países se juntam para legislar na prática a favor da conservação dos tubarões. 5 países de uma mesma região. Abrem um precedente fenomenal para que outras regiões costeiras de fronteira se juntem e possam elaborar iniciativas similares para a conservação da espécie. Parece que finalmente os grupos políticos passaram a entender uma realidade tão óbvia ululante: que os tubarões não sabem o que é fronteira, não pertencem a um país; que eles pertencem ao mar, e onde há mar, há necessidade de legislar por eles, independente de bandeira.

Tudo de bom sempre aos tubarões da Micronésia – e do mundo.

(Esta boa nova chegou no meu email via Shark Defenders.)

P.S.

  • A notícia desta ótima iniciativa chegou coincidentemente na famosa #SharkWeek do Discovery Channel, uma semana dedicada a programas só sobre tubarões. Tenho várias críticas aos programas desta semana – a começar por uma sugestão de troca de nome para #GreatWhiteSharkWeek, por exemplo. Mas, mesmo assim, ainda adoro assistir tudo. É como um Superbowl de tubarões, com comerciais criativos em torno do tema e muito feeding frenzy para agitar a noite da gente. E ainda dura uma semana inteira! Delícia.


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