À parte meu desejo constante de passar todo e qualquer Ano Novo na praia, um sonho de infância que me perseguia desde sempre era o de passar a virada do ano numa praia remota de uma ilhota qualquer do Pacífico. Isso já havia semi-acontecido em 2002-2003, quando participei de uma festa brasileira em Waikiki – uma praia no Pacífico, mas nada remota. Portanto, quando decidimos passar o Réveillon 2005-2006 em Palau (Micronésia), comecei a vislumbrar que meu sonho de tanto tempo estava enfim por se realizar completamente.
(Parênteses: Fica aqui o lembrete para que outros não cometam as mesmas gafes geográficas que eu já cometi no passado: não confunda a região micronésia, que engloba 7 países – Palau, Ilhas Marshall, Ilhas Marianas, Kiribati, Nauru, Estados Federados da Micronésia (EFM) e Guam – com o país supra-citado pertencente a região micronésia chamado… Estados Federados da Micronésia, composto por 4 grupos de ilhas: Pohnpei, Yap, Chuuk e Kosrae. Toda vez que alguém cita qualquer coisa sobre a Micronésia, eu mallamente pergunto logo: “o país ou a região?” Fim do parênteses.)
Os planos começaram, assim como a organização para a viagem. Logo descobrimos que não há vôos diretos de Seul para Koror, capital de Palau, mas como era época das festas, no final de novembro uma agência de turismo coreana programou um vôo charter Seul-Koror sem escalas, e foi nessa jogada que nós entramos. Num vôo charter, a agência de turismo aluga um avião (no caso, da Asiana Airlines) e vende o pacote fechado – mas nós queríamos apenas as passagens aéreas, que conseguimos comprar após negociação. O resto da viagem ficava por nossa conta, e organizaríamos como quiséssemos. Apenas um porém: o vôo de volta sairia de Koror no dia 01 de janeiro às 3 da manhã. Apesar do horário péssimo, ainda seria possível aproveitar rapidamente a virada do ano em Palau, o que para mim era o que contava. Nada mal.
A confusão começou no dia da viagem de ida, ainda em Seul. Faltando menos de 6 horas para que saíssemos para o aeroporto, o agente de viagens ligou dizendo que o vôo da volta havia sido reprogramado para sair de Koror… às 11 da noite do dia 31/dezembro. Ou seja, bye-bye Ano Novo na praia, a festa agora teria que ser dentro de um avião. Minha frustração naquele momento era indescritível, meu sonho de criança desceu pelo ralo. E depois de meia dúzia de telefonemas, faltando 4 horas para sair de casa pro aeroporto, decidi me conformar em passar o Ano Novo dentro de um avião. E fui curtir Palau.
A viagem foi excelente. Mergulhos maravilhosos. Passamos 4 dias que mais pareceram 4 meses, tamanho relaxamento mental e desligamento do mundo em que estávamos. O lugar é paradisíaco, e nos próximos posts (uns 4, provavelmente) pretendo mostrar um pouco das aventuras que vivi, dos momentos curiosos, das viagens de barco, da história dessas ilhas.
Mas eis que a noite de 31/dezembro chega. Como íamos para o aeroporto às 9 da noite, decidimos fazer duas pequenas comemorações antecipadas: pela manhã, fomos tomar um mega-café da manhã num resort da ilha – uma indulgência razoável para o Ano Novo depois de dias numa pousada simples. A segunda comemoração foi no jantar, pois fomos a um restaurante indiano (eu amo comida indiana) onde pedimos uma champanhe para acompanhar. O dono do estabelecimento fez questão de abrir e nos servir, e trocamos votos de “Alii 2006” (Alii = bem-vindo, em palauano).
Vista da mesa de café-da-manhã onde começamos a celebração de Ano Novo.

O indiano abrindo a champanhe comemorativa do Réveillon. Até aquele momento, ainda achávamos que nossa festa seria a muitos metros de altitude…
Fomos de mala e cuia às 9 da noite para o minúsculo aeroporto – que estava às moscas. Nenhum sinal de ninguém. Um guardinha veio nos perguntar o que estávamos fazendo ali, e informou que o próximo vôo só sairia de Koror às 5 da manhã. Até lá, o aeroporto estava fechado. Não entendemos nada. Já havíamos feito o check-out da pousada, sem contato algum com ninguém que pudesse nos informar da situação, pois o aeroporto de Koror nem guichê da Asiana tinha, já que era apenas um vôo charter. De repente, chegam 2 coreanos da agência de turismo e explicam que o horário do vôo havia sido alterado mais uma vez, e agora sairíamos às 6 da manhã de 1/janeiro. Apesar da desorganização e da raiva momentânea com toda essa prezepada da agência, percebi que meu Ano Novo na praia poderia voltar. Às 9:30 da noite de 31/dezembro, sem ter para onde ir, os mocinhos da agência decidiram nos hospedar num hotel onde estavam os demais clientes do pacote, e mal colocamos nossas malas no quarto novo, já começamos a matutar para onde poderíamos ir. Não pensei duas vezes: vamos para o resort do café da manhã, que tem uma praia, e onde eu lembrava ter visto um anúncio para um luau de Réveillon.
A brincadeira de passar por debaixo da “cordinha” (na realidade, uma pedaço de madeira) agitada pela banda palauana para o pessoal presente. Abaixo, o relógio digital do hotel já no Novo Ano que chegara há poucos segundos.
Ao chegar naquela prainha do resort, tive vontade de chorar de emoção. Já eram quase 11 da noite, e um grande painel digital fazia a contagem regressiva. Os hóspedes do hotel (a maioria japoneses ou americanos) se entretiam com uma bandinha palauana típica e com as brincadeiras feitas pelos cantores, que animados improvisavam uma dança da vassoura. Faltando 10 minutos para a meia-noite, serviram champanhe para todos – até para nós, penetras de última hora. Não conseguia parar de pular e dar risadas! Corri para perto da água, pulei ondas, gritei, corri, e aí comecei a ouvir a galera gritando… “Five! Four! Three! Two! One! HAPPY NEW YEAR!!!!!!!!!“ E as pessoas brindando, se abraçando, naquele clima tropical, naquele calor humano, naquela esperança transcendente que só o Ano Novo traz a todos nós. Meu coração disparado de tanta alegria. E eu estava com meu amor ali, descalça, numa praia remota de areias branquinhas no Pacífico, isolada do mundo, vivendo aquele sonho há tanto esperado.
Alii 2006 para todos e, em breve, as outras histórias da Malla em Palau.
Tudo de bom sempre.
*Mais fotos de Palau aqui.