Sobre álbuns de fotos

Aqui no Interney tem uma ferramenta que me surpreende. Cada página de post ao final aparece com uma lista de 3 “posts similares” que podem ser de qualquer blog do portal, selecionado por algum algoritmo sheldoniano por terem palavras-chaves próximas (?). Já vi outros blogs com a mesma listinha ao final, que em geral mostra posts do mesmo blog, mas aqui há uma diversidade miscelânica nas “similaridades” que me faz viajar. Eu termino descobrindo casualmente posts interessantes do passado de muitos blogs da vizinhança. E me divirto.

Eis que publiquei semana passada um post nostálgico-pessoal sobre a experiência que finalizara, depois de mais de 10 anos, de organizar álbuns de fotos para meu mochilão pela Europa. Um mundo de fotos que me trouxeram lembranças e sorrisos saudosos no rosto. Mas não são fotos para serem mostradas todas às pessoas que me visitam em casa nem para publicar todas aqui no blog: são fotos muito pessoais que me fazem andar de novo pelas ruas de Budapeste ou de Copenhagen. Para virem à tona numa reunião de amigos ou virarem post, elas precisam ser selecionadas. Eis que um dos posts relacionados era “Chatos que mostram fotos”, do Gravataí Merengue. Com esse título catchy e direto, cliquei lá para ler.

O texto é tipicamente Gravataí, hilário, irônico, com tons da ranzinzice que lhe é peculiar no blog e que me fazem dar gargalhadas. Fala de uma situação que o incomoda (e provavelmente outras pessoas também), que ficam sem saber o que fazer/falar para o outro que chega com vários álbuns de fotos enormes de uma viagem/evento/tema qualquer. Eu pessoalmente não reclamo, vejo tudo que a pessoa me mostra com paciência e dedicação, porque gosto de ouvir histórias e ver perspectivas fotográficas – mas eu sou uma pessoa paciente e “ouvidora” por natureza e entendo perfeitamente a dinâmica que o Gravataí cita. Entretanto, compartilho da opinião dele: muitas vezes as fotos que as pessoas agrupam (eu inclusa) são todas muito parecidas e não acrescentam muito ao tema (mas a pessoa que fotografou obviamente não percebe isso). E com o advento da câmera digital, a quantidade de fotos aumentou drasticamente. Por isso, compartilho aqui a quem interessar minha opinião, advinda de alguns anos lidando com fotografia. Longe de serem regras ou exemplos: é o relato de algumas experiências, boas e ruins.

Cada imagem pode contar realmente uma história diferente, mas fotos muito parecidas, tiradas quase no mesmo minuto, do mesmo local, com o ângulo muito similar, contam a mesma coisa aos olhos das outras pessoas, por mais que para você sejam/pareçam diferentes. Há de se pensar sempre numa regrinha básica: “Quantidade não é qualidade”. O melhor exemplo: lembro que voltei empolgada da minha primeira viagem de mergulho, e chamei meus pais para ver as fotos sub que tínhamos tirado. Pensei: são meus pais, vão querer ver tudo com carinho (sabe como é pai e mãe…). Ledo engano. Eis que depois de 200 fotos, meu pai já estava cochilando e minha mãe só abanava a cabeça, cansada que estava de ver tantas imagens azuis – fui uma verdadeira “malla”, coitados. Porque há um limite de assimilação e concentração pro foco humano. Depois de um certo tempo, por mais que você tenha fotos super-hiper-ultra interessantes, a pessoa cansa – esse limite varia de pessoa para pessoa, varia do meio em que a foto está sendo mostrada (digital ou papel), mas todos nós temos um limite em algum grau.

A câmera digital parece que complicou bastante a coisa, porque infelizmente a maioria ainda está no cambriano do aprendizado de apresentações fotográficas. Antigamente, ver um filme de 36 poses revelado não cansava; hoje, um flashcard de 2GB guarda uma quantidade absurda de fotos, simplesmente impossível de se ver de uma vez sem cansar. É fundamental que percebamos nessas condições quais fotos são apenas repetições do mesmo tema, quais são realmente representativas do que seja que você queira mostrar. Tirou 10 fotos naquela ruazinha fotogênica de Ouro Preto? Selecione uma, sua favorita ou a tecnicamente melhor, e ponha no álbum. Tem 5 fotos do mesmo grupo de pessoas em posições/risadas diferentes? Escolha uma.

Meu conselho, aliás, é de se imaginar 2 álbuns: um pra mostrar e compartilhar a experiência com as pessoas, e outro para você, pessoalmente, no aconchego da sua individualidade, manter e voltar em quantas fotos quiser, quando desejar “viajar” por elas de novo. Podem ser digitais ou de papel, mas separados. Minha amiga Cy, por exemplo, sempre manda as fotos de viagem dela em álbuns digitais extremamente bem selecionados. Nunca passam de 50 fotos, geralmente mostram os highlights de onde ela passou, contando um pouco das histórias sem tédio. Informa e não cansa. Já a faz o mesmo em álbuns de papel. Tive o imenso prazer de ver algumas vezes suas pérolas de viagem: uma organização primorosa, e as fotos dela, também selecionadas de um pool muito maior, nunca entediam, porque são escolhidas na medida certa, com bom senso.

Se você perguntar a qualquer fotógrafo profissional quantas fotos eles tiram em uma viagem/evento, a resposta será quase certamente um número deveras alto. Mas depois pergunte quantas eles mostram às pessoas. Em geral, em torno de 5 a 10% (quando muito!) do que foi fotografado vira “foto de álbum” ou “galeria online”. Geralmente bem menos. O grande lance é que, para que as fotos sejam sempre interessantes e não cansem as pessoas, os fotógrafos selecionam por um critério estritamente individual as melhores das melhores, e essas é que vão à público; o resto, fica estocado num meio digital qualquer (DVD, HD, etc.) para referência futura, apenas. (Lembre-se que a melhor foto para você pode não ser a melhor para outro; muitas vezes a história por trás da foto é melhor que a foto em si. Tudo isso merece ser ponderado no momento da seleção.) O processo de seleção não é fácil, confesso, principalmente se você gosta de fotografar – acho que amadores como eu têm mais dificuldade em filtrar fotos que profissionais. Eu tento praticar esse exercício constante, para que a experiência de compartilhar um momento especial seja prazeirosa e informativa, sem cansar. Certamente falho às vezes, mas vou tentando e aprendendo.

E aqui cabe um adendo em especial: álbuns de casamento. Por ser um momento carregado de emoção, há uma tendência forte a se colocar absolutamente todas as imagens registradas no evento – afinal, esquecer o tio de Ananindeua que veio só pra festa pode ser uma gafe social. Minha prima, por exemplo, quando casou, recebeu todas as fotos do fotógrafo contratado (umas 1000) para escolher – e eu, prima paciente, vi tudo. O álbum final tinha umas 300 fotos – que, ainda assim, é um número alto a meu ver (acho sinceramente que só os noivos não se cansam). Mas… e se eu contar para vocês que o álbum do meu casamento (que nós mesmos fizemos e mandamos imprimir em estilo coffee table book) inclui fotos do noivado, do casamento em si e da lua-de-mel em apenas 60 páginas? Nós tínhamos mais de 1000 fotos que poderiam estar ali. Mas condensamos tudo num livrinho fino, de menos de 100 fotos, que não entedia os amigos e conta uma história. Se funciona para todos? Não sei, até hoje ninguém reclamou. 😀

Longe de mim querer ser exemplo de organização, aliás – logo eu, que levei anos para arrumar as fotos da Europa e sabe lá quando finalmente começarei a postar essas histórias no blog de forma decente. Apenas quero trazer à reflexão dos que passam por aqui o quanto da mensagem efetivamente chega ao interlocutor. No mundo do Google e dos gigabytes de informação, acredito que o que mais precisamos exercer é senso crítico.

Mesmo quando estamos apenas a ver fotos de uma viagem.

Tudo de bom sempre.

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– Uma dica pessoal que funciona bem em minha opinião: abrir um blog (ou uma galeria online tipo flickr). Raríssimos são os posts em que vejo o blogueiro entediar o visitante com milhares de fotos iguais, que contam a mesma história over and over – acho que nunca vi, aliás. O formato blog meio que te “força” a escolher fotos-chaves, com o acréscimo de poder escrever as historinhas por trás dessas imagens. O resultado a meu ver é um maior benefício do compartilhamento das alegrias e bizarrices de uma aventura/experiência/evento. Eu recomendo. 🙂

– Ontem tive o prazer de me encontrar no Astor com blogueiros adoráveis numa noitada de muitas risadas: Marmota, Doni, Idelber, Ina, Pat, Soninha, sua filha e sua irmã. Também estava o Gravataí, que eu não conhecia e é uma figura engraçadíssima, apesar da charge infame que fez para mim, com um tubarão pedindo pra morrer. E conheci também o adorável Pedro, um gentleman, cuja ponderação admiro há anos – e ontem, sem desapontamento algum, confirmei que ele é um doce mesmo de pessoa ao vivo também. A todos que lá estiveram, muito obrigada pela deliciosa conversa.



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