Da Blogtopia para o twitterverso – e para a vida real

Ontem à tarde fomos André e eu assistir à palestra do nosso ídolo-blogueiro PZ Myers no Outrigger Reef Hotel, em Waikiki. A palestra New worlds of science education and outreach, from Blogtopia to the Twitterverse” fazia parte do Congresso Regional de Biologia do Desenvolvimento, e foi apresentada na sessão sobre educação – que teve também outras 2 palestras interessantes sobre dar aulas em uma faculdade de “liberal arts” e como envolver estudantes de graduação em pesquisa científica. Mas é claro, quando PZ começou a falar (foi o último a palestrar nesta sessão), o foco mudou radicalmente.

Foi um blast total. Incrivelmente, PZ trouxe uma visão extremamente positiva da ciência, dos blogs e da publicação online. Para quem conhece e lê o blog dele com frequência, sabe que ele está sempre destruindo os criacionistas e seus pseudo-argumentos, post after post. Mas que em termos de ciência, seus posts são um primor, principalmente os relacionados à biologia do desenvolvimento.

Chegando lá, encontrei Christie Wilcox, blogueira e colega de departamento na Universidade do Havaí, que assim como nós, estava ali de “penetra”, só pra ver o PZ. Meu amigo David, que apresentou um poster no congresso, já tinha nos dado o aval total para entrar e assistir, sem problema algum. Yeah!

Com Christie e PZ, pós-palestra. PZ got lei’d! 😀

PZ começou a palestra mostrando dados publicados no Pittsburgh Post-Gazette que mostravam que 49% dos americanos acredita que apenas os tomates geneticamente modificados têm… genes. A partir desta clara evidência de que estamos falhando (feio!) na educação científica da sociedade, ele começou sua ênfase de que este é um problema de todos nós, cientistas. Precisamos sair da torre de marfim da academia, parar de pensar que nosso super-específico projeto não influencia neste outcome desastroso de desconhecimento científico. Influencia, sim, e ele mostrou alguns exemplos muito interessantes de artigos idôneos científicos super-específicos, publicados em jornais peer-reviewed que foram totalmente distorcida pelo press release e/ou por jornalistas de ciência incompetentes (ou que caíram de para-quedas na seção de ciência do jornal) e viraram na realidade amparo a péssimos argumentos criacionistas. Por outro lado, mostrou também a felicidade que se tem quando seu artigo científico é analisado por um jornalista competente – citou Carl Zimmer, melhor jornalista de ciência do mundo em minha opinião (e aparentemente na opinião do PZ também).

PZ discutiu também a opção que temos de “cortar” os problemas com o press release: publicando seu próprio trabalho científico num blog. Sugeriu primordialmente que todo cientista deveria ter um blog, para organizar suas idéias, para treinar se expressar em linguagem mais simples o que pesquisa, para divulgar da forma que acha correta que seu artigo seja divulgado – e quando um jornalista for escrever sobre, tem o seu próprio texto na web para se basear, com a ênfase que você sublinha. Eu amei a idéia, e advoco-a desde sempre. (Embora – e a carapuça serviu direitinho aqui -, há pouquíssimos posts em que me aventuro a discutir meu trabalho em si. Shame on me. Corrigirei isto em breve, prometo.)

Mas um blog dá trabalho, e alguns membros da audiência levantaram questões chavões como: quanto tempo gastar escrevendo, como lidar com trolls, como construir uma audiência, etc. PZ respondeu a tudo baseado em seu exemplo – que é definitivamente um ponto fora da curva, já que ele tem em média 3 milhões de visitas por mês. Mas mesmo assim, para imunizar da virulência, ele sugere bom humor, no que eu concordo; sobre o tempo de escrita, gaste o tempo que achar necessário para sua diversão – e se seu blog passa de hobby a obrigação, talvez seja hora de repensar todo o esquema e dedicar mais tempo a ele. Para construir uma audiência… ele não deu dicas, mas disse que escrever de forma positiva sempre atrai um feedback bacana, e é isso que ele tenta incentivar, inclusive em seus alunos, que têm entre suas tarefas do semestre manter um blog, sob pseudônimo. (Nota: PZ disse que jamais comenta ou avalia o blog de seus alunos na internet, já que isto seria de uma anti-ética absurda. No máximo, linca. E conversa com o autor cara a cara, caso algo de caráter duvidoso apareça –  no caso, não relacionado com a aula que ele dá. Mas disse também que seus alunos demonstram uma habilidade fenomenal para se livrar dos trolls, o que ele aplaude muito.)

Do blog, PZ passou para a análise da divulgação de ciência no twitter e no facebook. Sua definição foi perfeita: “o twitter é a maior cocktail party da web”. E é verdade! É o momento de descontração, quando você discorre sobre o cotidiano e insere a ciência como “collateral damage” – e se educa e se é educado de uma forma muito mais leve, em tom de bate-papo. Concordo muito.

Ao final, PZ sugeriu que todo cientista, mesmo os menos nerds, deveria estar no facebook, pelo menos. Para saber o que anda acontecendo pelo mundo da divulgação de ciência, para acompanhar a nova geração, para aprender, ouvir e discutir de maneira positiva. Para principalmente, auxiliar na divulgação da sua própria ciência e humanizá-la, contribuindo para uma educação científica de melhor qualidade. Efeito formiguinha de blogagem, ora pois.

Com essa mensagem, PZ encerrou a palestra. Foi aplaudido longamente. No geral, achei a palestra fantástica: super-positiva, só bons exemplos, boas idéias, um brilho no olhar generalizado em todos dentro da sala, tudo em prol da ciência. Lindo. Fomos então conversar um pouco com ele. Eu estava super-empolgada (e nervosa perante ao gigante blogosférico), falando de viagens e ciência. Vocês podem perceber na foto abaixo como PZ e Christie estão “viajando” na minha maionese… (façam a legenda da foto, por favor). Um mico meu… 😀

Terminada a sessão e a interação com PZ, nos dirigimos eu, André e Christie para o Yard House, um bar em Waikiki que tem gazilhões de tipos diferentes de cerveja. Entre goles de diversas ales, muito blog de ciência na conversa, muitos posts, muitas risadas e nossas aventuras e desventuras com os seminários do departamento.

Foi um memorável e inesquecível Aloha Friday.

Tudo de bom sempre.

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UPDATE: Christie fez um post também sobre a visita do PZ em seu blog. E PZ PZzou nós duas, hahahaha!!

 



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