…E Lula foi para Tóquio. Ontem de manhã; e se duvidar a essa hora já está a bordo do Aerolula rumo ao Brasil, onde problemas grandes aguardam ansiosamente por ele. Levará consigo na bagagem vários acordos bilionários com empresas coreanas e japonesas, o que potencialmente trará lucros ao país, e conselhos, muitos conselhos. Levará também sua lula e algumas experiências vividas na Ásia – como o jet lag.
Já a Lucia passou a carregar na sua “malla” essa experiência incrível que viveu: ser pseudo-jornalista por 3 dias. Como toda experimentação, pontos positivos e negativos apareceram. Gostaria de expor um pouco o que achei de tudo isso, uma reflexão pessoal.
Antes de mais nada, eu acredito na “mídia do cidadão”. Aquela possível de formar opiniões a partir do seu background, menos estéril e mais opinativa. Talvez porque eu acredite nas pessoas. Por mais que eu saiba da existência de seres humanos com más intenções e ausência absoluta de senso, prefiro pensar que no final das contas, se mais pessoas tivessem acessos aos meios para poder expressar-se, a qualidade da informação subiria, e uma maior conscientização poderia surgir como resultado final. (Com bom senso, é claro, não com achismos equivocados sem argumentos.)
E diante dessa crença, o pseudo-jornalismo bloguístico que me desafiei a tentar fazer (com algumas falhas, eu sei), só valeu para me convencer mais ainda de que a mídia do cidadão existe e pode estar na ponta de nossos dedos, se assim quisermos. Chamo de pseudo-jornalismo para evitar preocupação com termos “jornalísticos” (que obviamente não sei) e aquela velha discussão de “o que é jornalismo? blog pode ser jornalismo?”; levando-se em consideração que no Brasil só é jornalista quem tem um diploma de Jornalismo, eu não sou jornalista então. (Quem quiser, leia esse post da DaniCast que reflete bastante a minha opinião também.)
A mídia do cidadão consciente encontra, portanto, um potencial enorme com o advento dos blogs, um meio sem muitas regras onde as pessoas participam e uma infinidade de assuntos podem ser abordados ao belprazer do “dono” do blog. Essa tendência ao caos pode levar a um buraco negro ou ao nascimento de uma estrela nova, e nesse ponto, cabe ao cidadão a escolha.Tudo é válido nesse universo. Eu sei, essa realidade está longe, muito longe, no Brasil, onde a maior parte da população não tem acesso sequer a educação, quanto mais a computadores e internet. Mas ela já funciona na Coréia: por exemplo, o abaixo-assinado contra a candidatura do Japão à vaga no Conselho de Segurança da ONU foi em massa assinado eletronicamente, com apoio das operadoras de internet e portais locais (Yahoo!Korea, Daum e Naver, principalmente), e contou com uma difusão em peso por blogs coreanos. E se funciona aqui, será que no dia que o brasileiro tiver acesso à educação tecnológica, ela também funcionará lá? Eu acredito que sim. Mais uma vez, está ao alcance dos nossos dedos no teclado.
Mas, continuando com algumas reflexões sobre impressões da visita do Lula a Coréia do Sul, acho necessário deixar claro também que em momento algum eu expus a minha opinião pessoal sobre o governo Lula de forma veemente. Primeiro, porque apesar de eu ler os jornais brasileiros pela rede, não estou vivendo o governo dele como se estivesse no Brasil, e isso por si só já me deixa em desvantagem analítica – ou não, dependendo do nível de imparcialidade requerido no momento. Segundo, porque eu queria esse formato “diário de viagens”, algo como o relato do que eu estava vendo ao meu redor, sem muita análise contextual profunda, apenas pitadas. E nesse item, o jornalismo tradicional é mais efetivo, porque não só a investigação da pauta é maior, como a acuidade da informação divulgada é mais refinada. Particularmente, eu acho que é nesse momento que o jornalismo tradicional perde a identificação com o leitor e se torna estéril, ou apenas uma máquina de moldar opiniões de acordo com interesses esdrúxulos. E é quando os blogs ou qualquer outra forma de mídia do cidadão consciente (ou o pseudo-jornalista-escritor nas horas vagas) pode entrar e cobrir esse vácuo. Acho que os dois meios de dissipação da informação podem andar lado a lado, numa boa, sem atritos, apenas com a consciência das diferenças de forma entre ambos. Afinal, quanto mais opiniões boas que nos façam pensar, melhor.
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Eu estou absolutamente comovida e encantada com todo o apoio sincero que me foi dado a esse “trabalho” – que foi bem divertido, diga-se de passagem – na caixa de comentários do meu bloguinho de viagens. Normalmente, eu já sou uma pessoa que adoro “ouvir” as viagens de cada um (além de delirar nas minhas próprias viagens), mas perceber o quanto as pessoas me acompanharam nessa maratona – fenômeno que eu pensava que só os meus amigos chegados e familiares fariam – foi simplesmente emocionante. Meu coração está repleto de alegria, graças a todos vocês, viajantes desse blog “Malla”. Vocês merecem palmas.
A Associação Brasil-Coréia (ABC), que eu conheci há 3 semanas no máximo, fez um trabalho exemplar. A organização do “Café com o Presidente” foi de primeira, tudo pensado, repensado, treinado e protocolado. É óbvio que a visita do presidente altera o ritmo da comunidade brasileira, mas o fato de ela ser minúscula (praticamente todos os brasileiros na Coréia foram no encontro) ajuda muito na boa organização. Não imagino tal situação acontecendo de forma tão tranquila em Boston, com sua mega-comunidade brasileira. Foi tão divertido estar com os brasileiros lá, que acabei de chegar de um showzinho num bar com as mesmas pessoas – e quero crer que um pequeno círculo de boas amizades pode brotar daí.
Preciso agradecer também aos blogueiros que me deram uma força desde a semana passada através de dicas valiosas: Rafael, Leila, Alex, Idelber, Suzana, Mônica, Donizetti, Cristiano e Sergio Leo. Valeu demais!
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Alguém viu a notícia de que os chineses querem levar a tocha olímpica acesa até o topo do Everest? E é nesse fim de semana que o Waldemar Niclevicz começa a escalada final, representando o Brasil por lá. Ou vocês acreditam que é só o Lula que representa o país em terras estrangeiras?
Tudo de bom sempre.
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P.S.: Estou com o discurso do Lula em mp3 pronto pra ser compartilhado, mas o arquivo tem 6.9 MB (são 12 minutos). Em formato original, fica mais monstrengo ainda. Os interessados em ouvir, não hesitem em me mandar um email (no rodapé deste blog), que eu envio o arquivo com o maior prazer. Não se acanhe.