por:
Lucia Malla
Antigos, Crianças, Livros, Memes, listas & blogagens coletivas
Publicado
06/07/2010
Foi a Flávia queridíssima quem me convidou para a roda da brincadeira da vez, que pede para contarmos qual foi o primeiro livro que você leu na vida. Foi um exercício de memória nostálgico e sorridente, que compartilho abaixo com vocês.
Meus primeiros livros e gibis
Aprendi a ler basicamente para poder ler sozinha os gibis da turma da Mônica (obrigada, @mauriciodesousa, por existir!). Antes disso, minha mãe os lia para mim. E eu era uma verdadeira “malla” pedindo para que ela lesse toda hora o dia todo uma revistinha para mim E ela, com a paciência de jó que me deixou de herança, largava o que estivesse fazendo para ler sem pestanejar, como se tivesse todo tempo do mundo para a filha. (Mamãe, eu te amo!) Assim que consegui “juntar as letrinhas e fazer som”, me pus a vorazmente ler ao meu belprazer todos os gibis da turminha querida que apareciam na minha frente.
Nesses primeiros momentos de descoberta das letras, lembro também de ler e reler infinitamente os livros “Polegarzinha” e “A pequena vendedora de fósforos”, ambos do dinamarquês Hans Christian Andersen. Autor, aliás, com quem mais tarde fui “conversar” em Copenhagen olhando para sua estátua, agradecendo cada palavrinha que colocou naquelas histórias e que me estimularam a querer ler mais e mais. Ambos os livros eram de uma coleção em capa preta que rodava lá por casa, cujas histórias me comoviam pelo fantástico e pela… neve. Morando numa praia da costa brasileira, o conceito de frio exacerbado me era tão enigmático quanto um marciano. E eu então “viajava” fazendo da areia da praia minha “neve” nas brincadeiras.
Livros marcantes
Mas houve também dois livros, que lembro ler ainda muito criança, que me marcaram. Um pelo título, e outro pela história em si.
“Onde mora o arco-íris?” de Giselda Laporta Nicolelis – figura que muitos anos mais tarde fui tietar numa Bienal do livro – me encantou pela capa colorida, com um desenho de arco-íris mágico. Infelizmente, não achei uma figura da capa deste livro na internet para colocar aqui. Aliás, não achei quase nada referente a ele, uma pena. A pergunta-título era o que me empolgava na época. A história fantástica das aventuras de um grupo de crianças em busca do pote de ouro do fim do arco-íris se tornou secundária à minha pergunta interna. Afinal, onde é o fim do arco-íris?
OnEsta pergunta, que me simbolizava a coloridão máxima e plena da alegria de viver de uma criança, onde enfim tudo será um eterno “e viveram felizes para sempre”, me perseguiu por toda a infância. Aliás, me persegue até hoje – exceto que entendo agora o fenômeno físico por trás das tais cores que aparecem no céu depois da chuva, e me maravilho ainda mais.

Entretanto, o primeiro livro que mexeu profundamente comigo foi um meio obscuro, que minha professora de alguma série primária (não me lembro qual) pediu para ler. Chamava-se “A baía dos golfinhos”, de autoria de Lucília Junqueira de Almeida Prado. As aventuras do Marcelo em Fernando de Noronha foi o primeiro livro que me fez querer pôr o pé na estrada e conhecer um lugar do país, a tal baía. Muitos anos depois, em 2003, quando finalmente pus os pés na Baía dos Golfinhos de Noronha, não foi das aulas de Zoologia ou Ecologia que primeiro lembrei. Foi, principalmente, do livro que despertou meu interesse pelos bichos do mar naqueles anos nascentes de encantamento pela vida.
A criança vive
E olhando para essa lista, posso afirmar sem dúvida que estes livros moldaram um pouco do que carrego ainda hoje dentro de mim. A gente cresce, amadurece (ou finge que), a vida fica mais atarefada e complexa. Mas aquela criança sorridente que se encantava com tão poucas palavras e com tantos desenhos… Esta criança ainda mora dentro da gente. E ainda dita um pouco da nossa alegria de viver. Basta de vez em quando a gente chamá-la para ouvir uma história.
Tudo de bom sempre.
P.S.
- Coincidentemente, enquanto escrevia este post, um arco-íris enorme apareceu no céu. Registrei da varanda aqui de casa uma foto.
