Cai-me em mãos (via meu amigo Marcelo no facebook) um artigo muito interessante sobre os pontos mais silenciosos do planeta. Fala do jornalista George Foy, que teve uma “epifania” enquanto esperava o metrô em NY e virou um obcecado por lugares sem ruídos humanos. Aliás, lançou um livro chamado “Zero Decibels”. O artigo comenta sobre o quanto não conseguimos nos livrar do barulho em quase nenhum canto do mundo, o quão o ruído é uma presença constante nas nossas vidas. À parte o fato de que nem todo barulho é desagradável, vivemos realmente num mundo absurdamente auditivo e audível. E às vezes, tudo que precisamos é o som do silêncio. Como o que “ouvimos” na cratera do Haleakala, em Maui, no Havaí.
Mundo dos sons e do silêncio
Pense bem: na praia, o barulho do mar. Na floresta e no campo, os passarinhos, insetos e as folhas ao vento. Na cidade, nem precisa comentar, né? Barulheira a todo segundo. Mesmo no Ártico, o som dos (muitos) aviões cujas rotas passam por ali gera alguns decibéis. Sempre há um barulho. Se ele é prazeiroso ou não, esta é outra questão; ainda assim, seus ossículos do ouvido interno estão trabalhando para codificar ao seu cérebro aquelas ondas sonoras. O silêncio mesmo, aquele que relaxa seu sistema auditivo, é difícil de ser encontrado. Nessa busca intensa por locais realmente silenciosos, Foy lista alguns pontos nos EUA onde o silêncio absoluto pode ser… Ouvido. (Parece contraditório, e talvez a melhor palavra aqui seja silêncio sentido.) Locais onde o nível de decibéis chega a, ou próximo de, zero.
O som do silêncio absoluto na cratera do Haleakala
Eu sou muito afetada por sons. Então fazendo uma busca pela minha memória de lugares que já visitei e o quanto e quais ruídos eram associados a eles, acho que o único ponto onde tive a sensação completa de silêncio absoluto foi na cratera do vulcão Haleakala, em Maui. Esta cratera já foi considerada o lugar mais quieto do mundo – hoje este título é desta câmara no laboratório Orfield. Nem mesmo no cume do Mauna Kea, na Big Island, temos essa sensação, já que o vento ali está sempre uivando.
Na cratera do Haleakala, no entanto, a geografia ajuda. Há uma parte rebaixada, por exemplo. Por causa desse rebaixamento, que protege a cratera do vento nordeste (o normal no Havaí), o barulho praticamente não chega. Daí que nem o ruído do vento a gente ouve. E, como o Haleakala está a mais de 10,000 pés de altura, com temperaturas gélidas, não há passarinhos nem insetos nem vegetação no cume – menos ruídos possíveis portanto. (Só a super-endêmica e ameaçada planta silversword consegue sobreviver na cratera do Haleakala.)
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Passeio (lotado) à cratera do Haleakala
Mas, ironicamente, a cratera do Haleakala é um dos passeios mais fundamentais (pra não dizer famosos) de Maui. Especificamente para ver o nascer do sol. São apenas 2 horas de carro de Lahaina até o cume, no meio da madrugada.
Aí você chega no cume e… Tem mais de 100 pessoas já por lá, esperando para ver a mesma coisa. Com tantos carros e tanta gente, é claro que durante o nascer do sol a cratera do Haleakala está longe de ser silenciosa. Pelo contrário, aliás, é um converseiro ininterrupto. (Sem contar a presença de diversos telescópios, que sugere portanto a presença humana constante por lá…)
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Como “ouvir” o som do silêncio da cratera do Haleakala
O frio exacerbado, muitas vezes de números negativos, espanta a maioria das pessoas que vão para o nascer do sol, que estão ali vestidas para férias na praia. Já que de lá provavelmente descerão para a praia. Ficam na cratera uma meia hora, no máximo. Mas, se você aguentar um pouco mais o frio – ou se animar a fazer uma das trilhas da cratera – poderá ter a oportunidade de ouro de ouvir o silêncio absoluto. O nada, o zero, um vácuo sonoro.
De repente, a sua respiração, o seu batimento cardíaco, parecem ser ensurdecedores – e, da borda do Kalahaku Overlook, lembro de diversas vezes segurar a respiração pra curtir a experiência alucinante do silêncio. E eu, que sou meio avessa a músicas cantadas, me peguei “cantando” mentalmente alguns dos versos do Arnaldo Antunes:
“Antes de existir a voz, existia o silêncio
O silêncio
Foi a primeira coisa que existiu
O silêncio que ninguém ouviu (…)
Vamos ouvir esse silêncio, meu amor (…)
Do lado esquerdo do peito, esse tambor”
Era este o barulho da minha mente inquieta, estranhando o som do nada ao redor.
Das várias experiências sensoriais marcantes que tive na vida, o silêncio do Haleakala foi, sem dúvida alguma, a mais incrível, indescritível e impactante que vivi. O silêncio.
P.S.
- Há vários tours de bicicleta para descer o Haleakala. Uma van leva você até o cume. De lá, você volta descendo o “rampão” da montanha de bike. É super-divertido, dá pra curtir melhor o ambiente inóspito do Haleakala. Além de ainda ver aos poucos a paisagem mudando, ficando mais verde.
- Vá bastante agasalhado para a cratera. Porque faz MUITO frio lá em cima. Principalmente se você chega antes do sol aparecer. Portanto, uma blusa de manga comprida apenas não é suficiente.
- Se você quer curtir melhor o silêncio, meu conselho: não vá durante o nascer do sol. Suba até a cratera em outro horário, para evitar o grande número de pessoas. Com sorte, durante o período que você estiver lá, nenhum helicóptero de tours aparecerá. Aí então o silêncio será total mesmo.
- Para quem quiser ouvir a música “O Silêncio” do Arnaldo Antunes, tá aí o clipe:
- Post dedicado ao Marcelo Ramos, que enfim inspirou com a notícia compartilhada.