Estou há tempos acumulando livros que gostaria de resenhar aqui. Então resolvi que esta semana será dedicada a opinar sobre alguns deles que andei lendo nos últimos meses. (Err, anos, em alguns casos).
Começo pelos 2 livros policiais empolgantes que li do casal mais detetivesco da blogosfera – e da literatura – brasileira: Roger Franchini e Olivia sem acento (também encontrada aqui).
Operação P-2
“Operação P-2”, da Olivia Maia (aperitivo aqui), é uma delícia de entretenimento. Li avidamente, num vôo no ano passado. É uma dupla estória, que aos poucos vai se integrando, como todo bom policial deve ser. A Olivia é a rainha da síntese, uma característica que admiro muito. Principalmente dada minha tendência exacerbada à prolixidade.
Facilmente, a estória intricada que ela desenvolve em 178 páginas poderia se transformar numa maçaroca de mais de 500 páginas. Se não fosse, entretanto, pela intensa edição onde apenas o mais importante da narração é o que fica. Não há arestas sem polir. Toda a estória é amarrada nos diálogos e na nóia do personagem principal Leonardo, inseguro e tenso quanto ao que seu próprio passado pode revelar.
Particularmente gostei da via de mão-dupla que é a narrativa. Mas talvez, por acompanhar os escritos da Olivia em seu blog, senti falta de uma de suas marcas registradas mais adoradas (pelo menos eu me amarro): as onomatopéias. Eu sei, a Olivia é uma pessoa-autora, seus personagens são outra coisa. Mas foi inevitável. Eu continuava ouvindo a voz dela ao fundo, e faltava um “capoft”, um “hip hip” ou “tam tam tam”. Ou ainda o indefectível “socorro” (que não onomatopeiza mas comunica em brevidade, como ela é mestra em fazer). etc. enfim.
Ponto Quarenta
Já “Ponto Quarenta”, do Roger Franchini, é muito mais cru. A Olivia ainda conta uma estória digerível, e você até se diverte com o medinho do personagem principal em ser descoberto. O Roger é fenomenal exatamente pelo contrário: impossível se divertir com a estória de “Ponto Quarenta” (esse termo divertir está muito longe da realidade ali exposta). A estória é para não digerir mesmo, você ficar pensando, mastigando, refletindo que, apesar de ficção, aquilo é um retrato tão realista das lambanças da Polícia Civil de São Paulo que te dói o neurônio – uma dor necessária, contudo.
Não há medo nem sequer pena do personagem principal, o investigador Vital. Há apenas a realidade, dura, amarga, cheia de facetas complexas, corrupção, ilegalidades. É um livro-retrato, de ficção, cuja não-ficção está nas entrelinhas. E há inúmeras delas. E todas são cruas, sem nenhuma camada de cal para disfarçá-las ou pelo menos amenizá-las. As arestas da narração propositalmente não estão polidas.
O conhecimento do Roger dos meandros do funcionamento da polícia é perceptível a cada linha. Isso torna o livro ainda mais rico, praticamente um título obrigatório para quem quer entender o caos da questão da segurança brasileira. É admirável e incrível como o Roger conseguiu ser tão denso numa estória sem se delongar nem cansar. O livro é leitura ótima para uma sentada de ócio, como fiz no aeroporto de LA quando o li, enquanto esperava um vôo de madrugada. A narrativa de “Ponto Quarenta”, aliás, é no ritmo de uma grande batida policial que acontece vapt-vupt, pá-pou.
Embora sejam “historinhas” de diferentes vertentes policiais, na realidade viram snapshots das verdadeiras sagas que acontecem cotidianamente pelas ruas, becos e delegacias de São Paulo. Recomendo MUITO.
Tudo de bons livros sempre.