Nove de cada 10 visitantes de Bonito vão a um lugar: a Gruta do Lago Azul. É o passeio mais visitado de Bonito – e o mais barato. Ironicamente, em 2003 entrei no grupo estatístico dos que não foram. De modo que dessa vez a Gruta não escapava dos meus anseios turísticos.
Fomos cedo da manhã e nosso guia foi o “Aza” (com Z mesmo, porque vem de “Azaléia”), um contador de histórias e piadas de marca maior. Aliás, conversamos tanto durante a trilha que no dia seguinte encontrei-o no centro de Bonito e ele me reconheceu pelo nome. Aza é guia da caverna desde 85 e sabia muitos detalhes sobre a Gruta. Esse post, aliás, é bastante baseado nesse longo papo que tivemos – fui anotando tudo em meu caderninho amarelo.
A Gruta do Lago Azul e suas pareidolias
A Gruta do Lago Azul é uma caverna de constituição calcárea. Uma enorme cavidade no solo serve de entrada para a caverna. Descemos cerca de 100m até o ponto mais ao fundo, onde avistamos o famoso Lago Azul.
A descida é num terreno bastante acidentado e cheio de pareidolias. Tem de bruxa a Buda, passando por um suposto “LA” dentro do lago. André até criou o “índice pareidólico” da gruta, onde o número de pareidolias apontadas pelo guia é proporcional à experiência do mesmo. Na realidade, a água ali não é azul: é apenas um efeito da difração dos raios de sol que entram na caverna na água super-transparente – esta última característica resultado do excesso de calcáreo, que eleva o pH da água a incríveis 8.2.
Histórico da Gruta do Lago Azul
A Gruta foi descoberta em 1924 pelos índios terena que viviam no Mato Grosso do Sul e comprada por um fazendeiro da região em 1948. Pertenceu a ele até 1972, quando o governo desapropriou por falta de cuidados, já que sem regulamentação, pessoas iam na caverna e faziam de tudo, desde depredar simplesmente até treinar tiro ao alvo nas estalactites (!).
Com a posse da gruta pelo governo, em 1982 foi liberada para pesquisas científicas, depois que uma equipe francesa mergulhou no lago, pôs cordas de marcação submersas e mapeou a caverna – franceses fizeram isso porque na década de 80 não havia uma equipe brasileira com equipamento adequado para tal exploração aventuresca.
Descobertas paleontológicas
Abri-la para pesquisa logo rendeu frutos. Porque paleontólogos que estudaram o local encontraram dentro do lago um fóssil de preguiça gigante e um fóssil de mamute. O de preguiça gigante não é único na região. Outro já havia sido encontrado pela equipe do Cartelle, um dos meus ex-professores de Paleontologia.
Mas é 1992 o ano-chave para a Gruta do Lago Azul. Foi nesse ano que Francisco José, da Rede Globo, fez uma reportagem especial mostrando o local com fotos sub. A divulgação em cadeia nacional repercutiu muito. Logo o ecoturismo no local foi aberto e a gruta então virou atração nacional.
Desde então, a gruta é administrada pelo poder público. Afinal, pela Constituição Federal, todo subsolo pertence à União. Isso, como esperado, gera certos entraves. Há por exemplo projetos para construção de uma escadaria menos “agressora” dos espeleotemas, mas há anos o projeto está em discussão… E nunca se chega a uma conclusão. Por outro lado, permite que o valor do ingresso seja bem barato, garantindo a mais pessoas o privilégio de ver tal beleza.
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Melhor época
Mas à parte as querelas administrativas, a Gruta do Lago Azul é uma atração muito interessante. Não foi minha favorita de Bonito, mas sem dúvida merece ser vista. De preferência no mês de dezembro, quando o sol incide diretamente no lago. Com isso, o teto maravilhoso cheio de estalactites ganha tons amarelados. É de uma beleza ímpar, e se você não tem estrutura física e/ou psicológica para encarar o Anhumas, mas não quer sair de Bonito sem ver uma caverna ou se divertir com pareidolias, essa é a melhor escolha.
Tudo de bom sempre.
P.S.
- Os passeios feitos em Bonito em outubro/2008 pela blogueira foram apoiados (#ap) pela Bonito Brazil.