5 de junho de 2018. Um dia de tristeza e pesar profundos. Dia mundial do meio ambiente, o dia em que a erupção do Kilauea fez uma vítima das mais queridas desta Malla que lhes escreve: as piscinas de maré de Waiopae, no município de Kapoho, ao sul da Big Island do Havaí.

Às 6:30 da manhã do dia 5, o sobrevôo do USGS confirmou que a lava não só tinha coberto toda a baía de Kapoho (!!!) como também estava entrando no oceano na região dos tidepools de Wai’opae.

Tristeza profunda pelos corais
A tristeza que esta notícia me deu foi profunda. Sinto no coração como se tivesse morrido subitamente alguém de quem gostava. E eu amava mesmo os corais e peixes do sistema de piscinas de maré de Waiopae. Eram meus prediletos no Havaí, dos mais encantadores que já vi.

(É engraçado a gente sentir pesar pela “morte” de um lugar. Principalmente se lembrarmos que lugares desaparecem a todo momento, seja por atividades tectônicas naturais, guerras ou por desenvolvimentismo humano. Mas, no fundo, acho que sinto a morte daquele ecossistema particular. Por razões que a própria razão desconhece, a morte dos habitantes marinhos e de seu habitat em Waiopae, sem defesa alguma nem tempo de evacuação perante a lava, me deixa um peso a mais de tristeza. Talvez por sua inocente inevitabilidade.)

O snorkel em Waiopae
Waiopae foi amor ao primeiro snorkel. Ainda lembro do dia em 2013 primeiro visitamos Waiopae. Chegamos ali meio que de sopetão: queríamos ir às Piscinas de Champagne de Kapoho. Mas viramos uma esquina errada e nos deparamos com aquele sistema gigantesco de piscinas de maré em rochedos de lava da Big Island.

Assim que caímos na água, a enormidade biológica daquelas piscinas de maré com tantos corais lindos e saudáveis e tanto peixinho serelepe ficou clara. E me arrebatou completamente, numa paixão daquelas de sentir borboletas no estômago. Ali, me senti aconchegada, totalmente em conexão com o oceano que nos cerca.

Um segredo do Havaí
Waiopae era um segredo guardado a sete chaves pelos moradores locais, um lugar que poucos visitantes sabiam existir quiçá visitavam, fora do radar do turismo. Das vezes que lá fui, quase ninguém aparecia ao redor, escondida que ficava num bairro menor de uma região rural/de veraneio da Big Island.
E a gente podia curtir aquele paraíso único de maneira tranquila. A arrebentação das ondas ficava tão longe que as piscinas praticamente não tinham corrente, servindo portanto de berçário para diversas espécies de peixes. Cada piscina, uma novidade, um pequeno universo de comportamentos e paisagens submersas.

Fiquei muitas horas boiando nas piscinas naturais, eu encantada pela geologia do fundo, com as diversas quebras de rochas de lava do terreno. Foi em Waiopae que primeiro vi um jovem peixe-cirurgião em sua coloração amarelada. Algumas cenas de snorkel que presenciei ali ainda estão vivas na minha cabeça, cenários inesquecíveis de um recanto aconchegante destas ilhas que amo tanto.

Waiopae no cinema
A beleza espetacular das piscinas de Waiopae era tão impressionante que sem dúvida não passou desapercebida por quem entende. No documentário Chasing Coral, renomados pesquisadores de corais reconheceram ali uma das maiores preciosidades do mundo natural atual. Ameaçadas pelas mudanças climáticas causadas pelo homem, ironicamente sucumbiram a um desastre natural de força maior destrutiva e renovadora, a lava de um vulcão.


As cenas aéreas e subaquáticas do filme, assim como as nossas fotos e palavras deste post, servem agora como um réquiem. Pesado por fim para esta jóia do Pacífico, para sempre perdida.

Rest in peace, Wai’opae Tidepools
A tristeza é grande mas a gratidão é maior: obrigada pelas memórias acalentadoras dos incríveis momentos submersos em paz que deixou em nossos corações. 🙁

P.S.
- Waiopae provavelmente voltará a existir um dia, com corais e peixes e tudo mais. Aventura tectônica que segue, afinal. Será uma paisagem diferente subaquática nascendo, talvez sem piscinas de maré mas com outras possibilidades. O problema: serão décadas, centenas, quiçá milhares de anos para que os corais se recuperem ali. Não estarei por aqui quando o coral se recompuser. Por hora, portanto, fica o sentimento de perda, apesar da certeza científica da renovação.