Estou colaborando numa pesquisa com um laboratório que fica na ilha abaixo, num instituto que faz parte do sistema da UH. Vai-se até o píer, pega-se um barco que atravessa em menos de 1 minuto até o píer do outro lado, onde ficam os laboratórios. Hoje de manhã, ainda no píer “de cá”, o barqueiro já avisava: tinha que ir em velocidade menor, para não atrapalhar as gravações. Ahn? Descemos então no píer alternativo, pois o costumeiro estava com uma “capa” protetora de mato artificial no farol. Porque fazia parte do background da cena que seria gravada. Para o seriado “Lost“.

Meu dia de trabalho começou interessante.
Gravação na Ilha dos Outros
No píer principal da ilha, a cena era a seguinte:

Alguns fãs do seriado na área, mas em pouca quantidade – nem se comparavam com a quantidade de gente que eu vi quando presenciei a gravação com Sawyer em novembro. Basicamente era só o pessoal que trabalhava por ali, já que a ilha é de acesso restrito. Rumores já corriam de que a cena fazia parte do episódio final (não duvidei, pela quantidade de atores que aos poucos foram chegando).
Olhei pra frente e quem eu vejo na tendinha?

Logo depois, chegou outro rosto conhecido:

Gravando!
A gravação começou dentro do “mato”, com Sun, Jack, Lapidus e Hurley correndo. A mesma cena foi gravada inúmeras vezes.

Só podíamos acompanhar de longe, para não atrapalhar. A regra era a menor interferência possível. Na entrada da marina, um veleiro, para onde parecia que os atores corriam na cena.

Almoço com tubarões
Bom, eu tinha que trabalhar apesar da vontade de ficar ali pescoçando. Fui então pro lab analisar sequências de DNA. Aí na hora do almoço, voltamos de novo bisbilhotar as gravações. Como produção e atores do seriado também estavam em horário de almoço (um serviço de buffet se organizou em frente aos tanques vazios onde outrora havia tubarões-martelo), resolvi passear no lago onde ficam os tubarões galha-preta. Afinal, adoro tubarões e este é um dos meus locais prediletos de descanso na ilha.

Estou sob a sombra quando vejo duas mulheres chegando perto, observando os animais. Uma claramente assistente da outra, que, descabelada, fazia de tudo para esconder o rosto. Era Claire.

Conversei um pouco com ela, mas fiquei sem graça pra pedir para tirar uma foto – ela nitidamente não queria ser reconhecida/incomodada.
Falamos então do baiacu que “mora” na laguna, das moréias que ficam escondidas no recife, de tubarões. E eu (claro!) não perdi a oportunidade de comentar “de leve” sobre o quanto os tubarões vêm sendo ameaçados. Ela me perguntou o que eram aquelas coisas estranhas que ficam no fundo da laguna. Respondi com um sorriso maroto: pepinos-do-mar (Ophiodesoma spectabilis), os mascotes não-oficiais daquela área. Eles são um enigma tão adorável quanto os mistérios de Lost.

Todos de Lost na ilha dos Outros
Voltei pra onde o pessoal se aglomerava. Sawyer havia chegado na ilha. Kate também, e ambos estavam no veleiro. O pessoal da produção tentava manter a moçada bisbilhoteira longe, de modo que ficou difícil ver o resto das gravações. Voltei pras minhas sequências de DNA.
No fim da tarde, quando saía, os barcos começavam a transportar os atores de volta para “o continente”. O que é apenas uma questão de perspectiva, afinal, já que o continente é a ilha de Oahu. Uma amiga minha tirou foto de Sawyer e Kate com cara de cansados no barco, ao fim de mais um dia de gravações.

Aos poucos, a bagunça da gravação do seriado dispersou. Mas achei engraçada a ironia: os losties saindo da ilha para que a normalidade fosse reestabelecida no território pacato dos “Outros” – os que ali trabalham todos os dias.
Tudo de lost sempre.