por:
Lucia Malla
Ecologia & meio ambiente, Mudanças climáticas, Política, Sexta Sub
Publicado
09/11/2012
Esta semana, a comunidade científica respirou aliviada por 2 vezes consecutivas. Primeiro, pela reeleição de Obama na presidência dos Estados Unidos – em um planeta aquecido e globalizado, é cada vez mais importante que pessoas com um bom senso comum se estabeleçam em cargos de poder demasiado. Não que eu ache que seu governo nos últimos 4 anos foi mil maravilhas, pelo contrário. Há ainda enormes desafios que ele precisa olhar de frente e com mais audácia. Entretanto, dada a alternativa, sem dúvida Obama reeleito foi gratificante.
O planeta aquecido no discurso presidencial
O segundo respiro de alívio veio horas depois da reeleição, em seu discurso de presidente reeleito. Finalmente, depois de tanto negacionismo por parte do governo anterior de Bush e da inércia em diversos aspectos em seu primeiro mandato, Obama finalmente mencionou “o poder destrutivo de um planeta em aquecimento”. Vindo dele, esta frase é EXTREMAMENTE significativa e importante para uma virada de mesa neste tema. Porque oficialmente declara a aceitação de que estamos vivendo as mudanças climáticas.
Parece irônico esperar alguém dizer isso para que algo possa acontecer, dado que os cientistas em uníssono sabem que o planeta está sofrendo mudanças climáticas significativas. Além disso, há discussões intensas sobre certos aspectos e detalhes do processo, mas não se discute sua existência; é um fato da nossa realidade atual. Mas a realidade é que no nível político, a negação e/ou descaso são muito maiores empecilhos para uma mudança de atitude do que pensamos. Porque permeiam, direta ou indiretamente, aspectos das nossas escolhas no dia-a-dia que nem cogitamos. Principalmente, dificultando-as.
Mudanças climáticas precisam ser enfrentadas de frente por todos
E quando você vive num ambiente em que até para escrever um projeto de pesquisa pro governo, a palavra “aquecimento global” precisa estar mascarada de forma criativa… Afinal, se ela aparece cristalina no texto, sua chance de conseguir verba cai vertiginosamente. Num momento destes, em que o presidente expressa sua preocupação com tal realidade, abre-se espaço não só para a busca real de soluções, mas para a esperança de que este, que é um dos maiores (senão o maior) problemas da humanidade atual seja finalmente encarado de maneira científica e pragmática. De preferência, abrindo a oportunidade para testar soluções concretas e iniciar mobilizações. Que, em última análise, mudem nosso estilo de vida de poluidor para um pouco mais sustentável.
Meu lado poliana-super-otimista não me deixa desanimar de que encontraremos tais soluções, mas elas precisam estar politicamente concatenadas com a realidade. E precisam envolver diretamente os EUA, um dos maiores geradores do problema. A menção de que o aquecimento global é real e está aí, batendo na nossa porta, abre a caixa de Pandora que até então era veemente negada ou displicentemente esquecida.
Aceitar que o elefante está na sala e que agora a gente precisa tirá-lo dali de alguma forma é trazer esperança pra dentro da sala de que temos chance de resolver o problema.
Tudo de bom sempre.
P.S.
- Claro que a menção ao aquecimento global no discurso presidencial foi provavelmente uma consequência da destruição causada pelo furacão Sandy. Entretanto, manter o silêncio custaria muito mais. Com a corrida presidencial decidida, fica mais fácil falar de mudanças climáticas, e talvez este alívio da reeleição tenha sido a faísca ideal para a inclusão no discurso. Torcemos para que análises e soluções práticas mais conectadas com a realidade comecem a ser levadas em consideração na/pela política americana.
- A foto é de um recife de coral, um dos ecossistema que mais vem sofrendo “calado” os efeitos das mudanças climáticas.
- Para outros posts da Sexta Sub, clique aqui.