por:
Lucia Malla
Antigos, Blog, Blogosfera & mídia social, Entrevistas, Viagens
Publicado
15/12/2007
A entrevista viajante de hoje é com o Daniel Bender. O Bender é o responsável-mor pelo blog coletivo de viagens Goitacá, onde escrevo de vez em quando. É ele que dá os puxões de orelha necessários na galera quando o blog desanda, que elogia e organiza aquela paragem internética. Ele também tem seu blog pessoal, onde fala um pouco de tudo, mas principalmente de notícias bizarras, exóticas e de cerveja. Foi lá, aliás, que vi vários modelos de árvore de Natal feitos com cerveja, uma piada.
Mas fora da vida bloguística, o Bender é um moço de Novo Hamburgo, manso, educado e com um papo agradável. Ele me concedeu portanto a gentileza dessa entrevista pelo MSN há alguns meses. Mas devido a todas as confusões por que venho passando ultimamente, a entrevista só sai agora publicada no blog. Peço desculpas pela demora, mas antes tarde do que nunca, né? Com vocês, a entrevista viajante do Daniel Bender. Divirtam-se!
Entrevista viajante: Daniel Bender
Você se considera mais ecoturista ou é ainda mais adepto(a) aos passeios urbanos?
Daniel Bender: Eu sou um urbanóide. Eu e minha esposa na verdade. Tanto é que na nossa lua de mel não fomos para a praia nem para a montanha. Fomos para São Paulo.
Nossa, urbano mesmo!!!
Daniel Bender: Não que não tenha interesse pelo verde, que eu tenho. Já fizemos trilhas em vários lugares (inclusive a trilha inca), mas nas cidades nós nos sintonizamos mais.
Entendo perfeitamente. E como você escolhe então seus destinos? Amigos, curiosidade, internet etc.?
Daniel Bender: Acho que o mais importante é a oportunidade. Em julho passado nós fomos para a China passear porque temos vários amigos morando por lá. Sabe como é, a galera do calçado e couro se bandeou para os lados de lá trabalhar e ficava insistindo “quando vocês vêm nos visitar?”. Bom, nós fomos.
Eu acho um barato viajar para visitar amigos em lugares diferentes. Aliás, é uma boa desculpa. 😛
Daniel Bender: Em novembro fomos ao Rio levar o carro do meu cunhado. Ele ia pagar R$ 800 para um caminhão cegonha, nós dissemos que levaríamos por menos. 😀
Somos muito competitivos em viagens…
Qual foi sua viagem inesquecível? Por quê?
Daniel Bender: Acho que nada ainda superou ter feito um mochilão na Europa em 2000. Naquela ocasião eu aprendi a gostar de passear e a interagir com gente de tudo quanto é lado do planeta. Também foi possível me comparar com os outros viajantes e decidir se o que lhes interessava também me interessava. Acho que foi amadurecimento forçado mesmo.
Amadurecimento como viajante e/ou como pessoa?
Daniel Bender: Seria possível separar os dois?
Acho que não. 😛
Daniel Bender: Como viajante eu aprendi a lidar com situações adversas. Como pessoa eu aprendi a lidar com pessoas estranhas. Mas é bem misturado, né? 🙂
É sim. E qual foi a pior viagem que fez? Por quê?
Daniel Bender: Foi para Porto Seguro com a minha família, pai mãe, irmãos e tal. Na época eu não percebi isso, mas Porto Seguro reúne tudo o que eu não gosto. Axé , praia, gente chata, música alta, breguice, outros turistas xaropes. Tenho a impressão hoje de que a cidade é uma gigantesca armadilha para turistas, o que é injusto, claro, afinal muita gente gosta de lá. Só acho que é o meu inferno pessoal, ou seja, cada um tem o seu.
Você não gosta de praia? Que interessante.
Daniel Bender: É, eu não gosto muito de praia. Gosto de passear na praia como eu passearia no campo, mas pára por aí. Ficar cozinhando na areia nunca me pareceu muito divertido.
Bom, cozinhar na areia nem é saudável, também… É que praia para mim tem outro sentido principalmente: mergulhar. Qual a comida mais exótica/ estranha que já comeu numa viagem?
Daniel Bender: Na China eu comi cobra, mas nada bate a cerveja de milho cuspido do Peru. É a chicha, acho. Maravilha culinária. Os índios a fazem mascando um tipo de milho roxo e depois cuspindo num balde. Depois deixam a meleca toda fermentar e bebem. Às vezes eles filtram. Mas só às vezes.
Nossa, deve ser “aquilo” mesmo…
Daniel Bender: Não é ruim, mas é esquisito pacas.
Você tem alguma mania ao viajar? Tipo colecionar fotos de orelhões, beijar o chão ao chegar, etc.?
Daniel Bender: Eu gosto de caminhar nas cidades. Gosto muito mesmo. Às vezes caminho muito mais do que o recomendável; a esposa, coitada, fica furiosa comigo. “Não era só 4 quadras, Daniel?” Mas como vamos saber de antemão o tamanho das quadras em Pequim?
Como você elabora seu trajeto de caminhada?
Daniel Bender: Vejo os pontos que eu quero ir, dou uma olhada no mapa se a distância é menor do que 10 quadras e mando bala. Em São Paulo funcionou bem, em Pequim não (maldita cidade de avenidas grandes!).
Haha!! Beijing é espalhada, meu caro… 😉
Daniel Bender: Eu sabia mais do que os guias, coitados. Em alguns casos, claro. 😀
Qual sua trilha sonora preferida durante uma viagem? Alguma música em especial?
Daniel Bender: Durante o mochilão na Europa eu escutei bastante música porque estava só, mas geralmente evito música em viagem. Tanto por segurança quanto para aproveitar a companhia e também escutar o que o local tem a dizer. Mas sempre tento comprar um ou dois CDs de música do lugar antes de sair. Um belíssimo souvenir.
E você tem alguma banda/música diferente que indicaria?
Daniel Bender: No Peru eu comprei um CD de uma banda chamada “El Viejo” que mistura os sons dos índios com heavy metal com muito bom gosto. Foi indicação de um amigo de lá. Eu adorei!
Nossa, índios com heavy metal, que sepulturesco!
Daniel Bender: É verdade. Gente criativa esses peruanos…
Tenho vontade de conhecer o país, parece bem interessante.
Daniel Bender: Tem que ir. Morro de vontade de voltar lá e conhecer o resto.
Você faz muitas viagens de “volta” a lugares que gostou?
Daniel Bender: Ainda não fiz nenhuma dessas viagens. Infelizmente, mas ainda sou um cara novo. O problema é que esse mundo é grande e o tempo é escasso.
Você leu meu texto no Marmota? Fala sobre isso. A síndrome do mundo grande. E qual o souvenir mais exótico que já trouxe de algum lugar?
Daniel Bender: O souvenir mais estranho seriam “duas bolas relaxantes” que eu comprei em Xian. A vendedora queria RMB 50, eu ofereci 5, ela retrucou e fechamos por RMB 10 (R$ 2,50).
Bolas relaxantes?
Daniel Bender: É. Eu achei uma delas bonita e pechinchei o preço de apenas uma. Depois de fechado o negócio, a mulher embalou duas bolas dentro de uma caxinha tetéia. Ainda não usei. Mas só de pensar em não precisar mais pechinchar eu relaxo, comprovando portanto a eficácia do produto.
Hahahahaha!!! Você não gosta de pechinchar?
Daniel Bender: Eu gosto, mas tem um certo ponto em que a coisa começa a irritar. Eu simplesmente não tinha mais noção de preço algum e me limitava em sugerir o preço mais ultrajante possível para o vendedor me mandar embora. Funcionou quase sempre. Com as bolas não deu muito certo. Chegou um momento em que eu perdi completamente o tesão inclusive por isso e ficava debochando dos caras tentando vender desesperadamente. “Não, eu não preciso de relógios falsos porque tenho um implantado na cabeça”, “Não, eu já tenho sapatos, por que eu precisaria de outros?”
Deve ter sido hilária a reação deles. Na Ásia, os vendedores são muito “certinhos”, não devem ter entendido a piada.
Daniel Bender: Alguns apontavam para mim e diziam que eu era “very bad, sir”. Outros só faziam “humpf” e me esqueciam.
Para finalizar a entrevista, uma dica sua especial, Bender.
Daniel Bender: A única dica de entrevista que serve para todo mundo é “planejem sua viagem financeiramente”. Depois não adianta ter a oportunidade, ter o tempo, ter vontade e nao ter grana para gastar. Viajar pode custar caro ou barato, o que vai definir isso é o quanto for planejado.
Excelente dica! E a próxima viagem é para…
Daniel Bender: Ainda não planejamos. Há a possibilidade de ir para o Uruguai visitar a Nospheratt (ainda não combinei com ela, hehe). Há também a vontade de ir para a África do Sul (agora só falta a grana, bah) e para a Terra do Fogo. Pensando bem, há a vontade de se conhecer o mundo inteiro. Olha, ser um cara curioso é um saco!
- P.S.: Na última quinta, fui assistir a um dos remanescentes daquela galera de Seattle, que passou por Sampa e deixou um rastro de grunge no ar. Chris Cornell, o Escravo do Áudio no Jardim do Som de um Templo de Cachorro. A black hole concert. Marcante.
- UPDATE: Ainda bem que fui a esse show em 2007. Porque em 2017, ele nos deixou. 🙁